sábado, 26 de junho de 2010

Quem quer uma rifa?

Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta.


- Clarice Lispector -

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Decrescente

A amizade - ou qualquer outra relação - se assemelha a uma flor,
conforme as decepções vão acontecendo,
as pétalas vão murchando uma a uma,
perdem o brilho... tornam-se opacas,
não há retorno.
Pois a flor desidrata,
fica seca
e vira...
nada.

domingo, 20 de junho de 2010

Só a essência

Contei os meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma tijela de cerejas. As primeiras, ela chupou-as displicente, mas percebendo que faltam poucas, até rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabarolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando os seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projectos megalómanos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milénio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.

[...]

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:
"as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
O meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Quero a essência, a minha alma tem pressa...

Sem muitas cerejas na tijela, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir dos seus tropeções, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge da sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do Bem.
Caminhar perto de coisas e pessoas verdadeiras, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena.

Tempo Mágico - Jane Mary Abreu

sábado, 19 de junho de 2010

Transformações... reformas... e suas variações.

Como mudar tudo para melhor?
No início é você.
Você se melhora.
Você se transforma, se renova e evolui,
depois você transforma ao seu redor.
É do singular para o plural,
como uma corrente.
Do específico para o amplo.
Nada de extremismos.
Nem direita, nem esquerda.
Nem grandes, nem pequenas revoluções.
Revolução corrompe a subjetividade,
subverte a opinião.
O ideal é metamórfico,
nada muda em um instante,
é necessário um processo contínuo
para que a ideia seja coesa.
Nada de ficar preso somente
às grandes teorias,
palavras caprichadas,
pois o que funciona
para o movimento ficar arraigado
é comprometer-se de corpo e alma,
com pensamentos e atitudes.

domingo, 13 de junho de 2010

Sinta a magia!

Chorar por tudo que se perdeu,
por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser,
pelo que perdi de mim,
pelo ontem morto,
pelo hoje sujo,
pelo amanhã que não existe,
pelo muito que amei e não me amaram,
pelo que tentei ser correto e não foram comigo.
Meu coração sangra com uma dor
que não consigo comunicar a ninguém,
recuso todos os toques
e ignoro todas tentativas de aproximação.
Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha,
de pedir que me deixem em paz e só com ela,
como um cão com seu osso.

A única magia que existe é estarmos vivos
e não entendermos nada disso.
A única magia que existe é a nossa incompreensão.


- Caio Fernando Abreu -

sábado, 12 de junho de 2010

Try baby, try!

Hoje vou de Janis, essa é a dica, com seu blues denso, alma transbordante e desvairada, suas letras cabem à muitas ocasiões e muitas reflexões do coração. Portanto, sempre tentem, sempre se inconformem, sempre insistam, caso contrário deixem de viver.



Try, try, try just a little bit harder
So I can love, love, love him, I tell myself
Well, I'm gonna try yeah, just a little bit harder
So I won't lose, lose, lose him to nobody else.
Hey! I've waited so long for soemone so fine
I ain't gonna lose my chance, no I don't wanna lose it,
If it's a dream I don't want nobody to wake me.

Yeah, I'm gonna try yeah, just a little bit harder
So I can give, give, give, give him every bit of my soul.
Yeah, I'm gonna try yeah, just a little bit harder
So I can show, show, show him love with no control.
Hey! Well, I don't care how long it's gonna take you now,
But if it's a dream I don't want
No I don't really want it

All right, get it! Yeah!

Try yeah, try yeah, hey, hey, hey, try yeah,
Oh try whoa! Whoa, whoa, whoa, whoa,
Oh anybody, oh anybody, oh anybody,
Try oh yeah (just a little bit harder)
Whoa I gotta try some more,
I said try yeah, aw I said try,
I said try try try try try try,
Oh try oh yeah, try oh yeah!

Hey hey, I gotta talk to my man now,
You know I, I gotta feel for my man now,
I said I, I gotta work for my man now,
You know I, I gotta hurt for my man now,
I think-a every day for my man now,
You know it, every way for my man now,
I say try, try yeah, oh try yeah,
Hey hey hey, try yeah-hey, oh, try...

Janis Joplin - Try (just a little bit harder)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Ciclo

Sempre que vejo,
é você que quero.
Sempre que recaio,
é você que quero.
E... quero, sonho,
pego, renego,
escapo e recaio.
Cíclico se faz e refaz,
e nada jaz,
continuo no sempre querer,
relevo, elevo,
e ainda quero.

domingo, 6 de junho de 2010

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Escrevo porque escrevo.

"Não escrevo para agradar e tampouco escrevo para desagradar.
Escrevo para desassossegar."


- Saramago -

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Luz Negra

Sempre só
eu vivo procurando alguém
que sofra como eu também
mas não consigo achar ninguém

Sempre só
E a vida vai seguindo assim
Não tenho quem tem dó de Mim
Tô chegando ao fim

A luz negra de um destino Cruel
Ilumina um teatro sem cor
Onde eu tô representando o Papel
Do palhaço do amor

Sempre só
E a vida vai seguindo... vai Seguindo assim
Não tenho quem tem dó de Mim
Tô chegando ao fim

- Nelson Cavaquinho -

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Communication Breakdown

Agir agressivamente impulsivamente, quem entende?
Quem se esforça em compreender?
Talvez a maneira brusca seja somente a ação no primeiro ato, não quer dizer que não exista grandes momentos de reflexão. A casca é esfolada, calejada, mas não é impossível atravessar esses arranhões causados pelas lacunas das estradas, logo se chega ao lugar plano, macio, doce, agravável.
Pede-se, pede-se, pede-se e o que se entrega?
O que se dá?
A vida não é só pedir e esperar, movimentar-se faz o todo e não esmorecer, a realidade das duas partes.